Política
Bolsonaro deu 1.682 declarações falsas ou enganosas em 2020, aponta ONG internacional
O Brasil é visto como um local “restrito” à liberdade de expressão, classificação observada pela ONG como um alerta à democracia.
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RedaçãoRelatório Global de Expressão com dados de 2020, publicado pela ONG Artigo 19 nesta quinta-feira (29), calcula que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) emitiu 1.682 declarações falsas ou enganosas no ano passado. O número representa uma média de 4,3 declarações por dia. Em janeiro de 2019, foram 2.187 declarações falsas ou distorcidas.
Entre as informações falsas estão ao menos 28 declarações defendendo tratamentos sem eficácia comprovada cientificamente contra a Covid-19, o que, segundo a entidade, contribuiu para aumentar o número de casos da doença em território nacional. Outro ponto abordado é a falta de transparência nos números da pandemia em alguns países, entre eles o Brasil.
Entre as falas de Bolsonaro destacadas pelo relatório está a “gripezinha”, termo que o presidente utilizou para se referir à Covid-19. “Promove discursos antivacinas e anti-isolamento, piorando as taxas de infecção e causando uma crise de informação com discursos altamente polarizados”, sinaliza a ONG.
“Em outros casos, a desinformação vem de indivíduos que ocupam posições relevantes — até mesmo chefes de governo, como Jair Bolsonaro —, geralmente por meio de contas pessoais, em vez de oficiais, nas redes sociais. Esses indivíduos isolados podem ter um grande impacto na disseminação da desinformação. O presidente dos Estados Unidos [Donald Trump, que estava no cargo em 2020] foi provavelmente o maior impulsionador da ‘infodemia’ de informações errôneas sobre a COVID-19 em língua inglesa”.
No entanto, a publicação ressalta que o problema da desinformação não ficou restrito ao Brasil, pois se espalhou rapidamente pelas redes sociais e aplicativos de mensagens, em diversos cantos do mundo. O tipo mais perigoso, diz o relatório, “tem sido as teorias de conspiração sobre minorias étnicas que espalham a doença e o discurso de ódio, traduzidas em discriminação e violência no mundo real, remédios caseiros espúrios para a prevenção ou cura do vírus e propaganda — tanto por autoridades políticas nacionais quanto estrangeiras”.
Ataques à imprensa
O documento, que coletou dados de 161 países, também aponta ataques de Bolsonaro à imprensa e revela uma queda no nível de liberdade de expressão no Brasil. O país obteve apenas 52 pontos, numa escala que vai de 0 a 100, ficando em 86º lugar no ranking e aparecendo como o país latino-americano que mais perdeu pontos quando comparado com o relatório de 2019.
Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil é visto como um local “restrito” à liberdade de expressão, classificação observada pela ONG como um alerta à democracia, junto a nações como Mianmar (97º), Quirguistão (95º), Haiti (82º) e Afeganistão (79º). Esse é o índice mais baixo registrado desde 2010, quando começou a ser calculado pela Artigo 19.
“Nos últimos cinco anos, o Brasil deixou de ser um dos países com maior pontuação mundial para ser considerado uma crise de democracia e expressão — e agora também uma crise de saúde pública. O Brasil é a perfeita avalanche contemporânea de problemas de expressão: populismo autocrático, desinformação, desigualdade severa e controle tecnológico. A pandemia consolidou as tendências observadas no último ano”, diz o relatório.
O Relatório Global de Expressão também contabilizou 464 ataques à imprensa, feitos tanto por Jair Bolsonaro quanto por políticos próximos a ele. Muitos ocorreram de maneira virtual e tiveram jornalistas mulheres como alvo.
“Esse nível de agressão pública não era visto desde o fim da ditadura militar. A crescente hostilidade social contra jornalistas e seus efeitos desencorajadores não devem ser subestimados”, destaca o documento.
No ano passado também houve 254 violações no Brasil contra jornalistas e comunicadores, sendo que 123 foram perpetradas por agentes públicos e 20 constituíram casos graves, como homicídios, tentativas de homicídio e ameaças de morte.
Outro ponto de alerta foi o aumento do uso da Lei de Segurança Nacional pelo governo Bolsonaro, esta que remonta à época da ditadura militar, utilizada “como arma contra manifestantes e jornalistas que desafiaram o presidente por sua falta de ação, mesmo com o aumento das evidências do escopo da emergência da Covid-19″.
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