Aulas presenciais e a iminência de uma terceira onda, por Kaique Ara

Após um ano de paralisação das aulas presenciais no Brasil, por conta das medidas de distanciamento social para o enfrentamento da Covid-19, o debate sobre o retorno das aulas presenciais tem sido cada vez mais latente entre escolas públicas, privadas, pais, mães, estudantes e professores. À medida em que os decretos sobre a suspensão das aulas presenciais prorrogavam sua validade, escolas e educadores achavam novos caminhos para oferecer suas aulas através do ensino remoto.

O pontapé inicial para o ensino remoto não foi nada fácil. Além de exigir o mínimo de preparo dos professores, que precisaram manusear aplicativos de videochamada, também requeria e requer uma boa qualidade de internet, de equipamentos como smartphones, tablets ou notebooks para a transmissão e interação entre estudantes e docentes.

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Se de um lado havia um grande choque para os alunos, que tiveram que deixar o convívio social das salas de aula em cumprimento às orientações sanitárias, por outro seus pais tiveram que assumir um papel extremamente necessário na educação de seus filhos, o do apoio, incentivo e controle das atividades e estudos, como relata Rita de Cassia, mãe de Ana Clara, estudante do 6º ano de uma escola da rede privada de Camaçari.

“A pandemia mostrou o quanto é difícil ser professor. Eu, que sou mãe, tive que assumir parcialmente o papel dos professores da minha filha. Acompanhar, cobrar e ficar no pé para que ela estudasse. Às vezes ela me perguntava algo do conteúdo e eu não sabia responder, mas a internet ajudou muito nesse sentido”, pontuou.

Para muitos professores com anos e anos de magistério, se inserir dentro do universo tecnológico, com pouquíssimo ou até mesmo nenhum preparo para utilização de plataformas virtuais, foi um desafio estratosférico. Esse despreparo, não só de grande parcela dos profissionais de educação, mas até mesmo das escolas, secretarias municipais e governos, mostrou que a educação brasileira ainda está no período analógico.

O processo de adaptação para pais, alunos e professores foi traumático. Muitos dos profissionais de educação foram impactados psicologicamente durante a pandemia. Ansiedade, medo e exaustão estão entre os relatos apresentados.

Apesar dos traumas, aceitar o modelo remoto como o único instrumento, neste período, para viabilização da educação é fundamental. Algumas tentativas de reabertura gradual do ensino presencial no país têm sido frustradas pela ausência da vacinação em massa. A professora Maria Claudia relata as dificuldades. “O que mais queremos é retornar à sala de aula, não vejo a hora de estar perto dos meus alunos. Porém, perdi muitos amigos, conhecidos e colegas para a Covid-19. Reabrir as escolas nesse momento, onde nem todos os profissionais da educação tiveram acesso à vacina, é simplesmente uma irresponsabilidade. O ensino presencial deve voltar assim que a nossa população esteja vacinada em massa”.

A iminência de uma terceira onda do coronavírus, além das variantes que têm sido descobertas, são elementos suficientes para coibir qualquer possibilidade de retorno às aulas presenciais na Bahia. Os leitos de UTI nos hospitais já atingem mais de 80% de ocupação e medidas restritivas de toque de recolher já foram decretadas novamente.

Kaique Ara é professor de História e mestrando em Estado, Governo e Políticas Públicas.

*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.