Política
Audiência pública discute reconhecimento de 29 de maio de 1558 como data de fundação de Camaçari
O debate foi levantado pelo historiador Diego Copque.
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Camila São JoséA população, historiadores e pesquisadores debateram hoje (24) na Câmara Municipal de Camaçari o possível reconhecimento de uma outra data da fundação da cidade: o dia 29 de maio de 1558. A audiência pública foi requerida pelo historiador Diego Copque, autor do livro ‘Do Joanes ao Jacuípe – Uma história de muitas querelas, tensões e disputas’, e presidida pelo vereador Jamessom (União), presidente da Comissão de Educação e Assistência Social.
Diego Copque explica e defende que a data precisa ser reconhecida pela gestão municipal, Câmara e prefeitura. Este é o dia da fundação do Aldeamento do Espírito Santo, onde atualmente conhecemos como Vila de Abrantes. O município celebra o seu aniversário no dia 28 de setembro, data que marca a emancipação política de Camaçari.
“Nosso papel aqui é de reconhecer a data de fundação da cidade e não anular o 28 de setembro, que são processos diferentes”, disse.
O historiador ainda pontuou que é necessário corrigir uma incoerência da história, já que a primeira igreja da cidade, a Igreja do Divino Espírito Santo completará 464 anos em 2022 e Camaçari celebrará 264 anos.
“Nós estamos aqui discutindo o reconhecimento da data de fundação da nossa cidade, porque é muito incoerente Camaçari ter uma igreja que completa 464 anos de fundação, que é a Igreja do Divino Espírito Santo, e a cidade a qual é edificada essa igreja ter 264 [anos]. Há uma incoerência muito grande nisso aí. O que nós estamos pleiteando? O reconhecimento da data de fundação da nossa cidade que se deu há 464 anos atrás e o reconhecimento da emancipação política e civil dos povos indígenas, que é justamente o nosso 28 de setembro. Nós não estamos aqui para anular, destruir ou mitigar a história da cidade, muito pelo contrário, o nosso intuito é consolidar. Camaçari é una, Camaçari é única. Até que haja qualquer processo de ruptura, e que pode haver, tudo é possível, Camaçari é uma só e a sua história está pautada desde o século 16”, complementou.
Presentes na audiência, moradores de Vila de Abrantes saíram em defesa do reconhecimento da importância e história do distrito para Camaçari. “Essa casa legislativa tem uma dívida com Abrantes, não podemos cometer mais uma injustiça com Abrantes. Em nenhum lugar no mundo, em minhas pesquisas, eu vi uma cidade se apossar da história de outra cidade”, disse o historiador Emerson Sales ao cobrar a realização de uma outra audiência pública sobre o tema.
Sales afirma que o dia 29 de maio de 1558 precisa ser reconhecido como o dia de fundação do antigo município de Abrantes e não da cidade de Camaçari. Cidadãos do distrito ainda afirmaram que a data de 28 de setembro precisa ser corrigida e nomeada como a Semana de Abrantes, como teria determinado por Eduardo Cavalcante, tabelião da cidade.
“É preciso essa Casa Legislativa fazer uma reparação em relação ao 28 de setembro. Em 1957, a lei 53 foi aprovada por unanimidade nessa Casa através do senhor Eduardo Cavalcante, historiador, poeta, jornalista, camaçariense, defensor da história de Abrantes. Ele pediu a esta Casa que se criasse um dia em homenagem ao velho município de Abrantes e essa data foi criada como 28 de setembro. Para quê? Para relembrar os feitos históricos do velho município de Abrantes. Essa data foi trazida para Camaçari, como data da emancipação política de Camaçari. Quem fez essa lei aqui eu não sei”, pontuou.
“Porque 28 de setembro é a data da Semana de Abrantes criada em 1945 pelo saudoso, que não tem nem o nome de uma rua, discriminam o cidadão aqui em Camaçari, Eduardo Cavalcante, um grande defensor de Camaçari. Ele criou a Semana de Abrantes e que o dia maior fosse no dia 28 de setembro aqui em Camaçari e transferiram para o centro. Camaçari, essa cidade industrial, não tem uma data cívica, é preciso organizar a história daqui”, defendeu o historiador José Fernando.
No entanto, o historiador Diego Copque pontuou que o município é único e a sugestão é consolidar e se apropriar da história da cidade. “Camaçari é uma só e a sua história está pautada desde o século 16”, demarcou. “Nós não estamos falando aqui de ruptura, de divisão. Nós estamos falando da cidade de Camaçari, que una. Até que haja um processo emancipatório, Camaçari é uma só. O antigo município de Abrantes tem a sua história, mas isso não apaga”.
O líder indígena e funcionário da Câmara Municipal de Camaçari, Marcos Élder Vieira, ainda reivindicou o reconhecimento dos povos indígenas na construção da história de Camaçari. Além disso, ele ressaltou que a Casa Legislativa também precisa modificar a sua data de fundação, passando de 74 para 264 anos – contando a partir da fundação da Casa de Câmara e Cadeia em 1758.
Confusão
Moradores de Vila de Abrantes ainda reclamaram o fato de não terem sido comunicados da realização da audiência pública. O encontro tinha o objetivo de discutir apenas a data em questão, mas ao longo das explanações surgiram questionamentos que remeteram ao interesse da emancipação do distrito de Vila de Abrantes.
“Eu como filho de Abrantes não aceito que mexam na história de Abrantes”, bradou o vereador Dr. Samuka (Cidadania). “Abrantes é cidade em sua essência, tudo bem nós fazemos parte de Camaçari. Nós aceitamos fazer parte de Camaçari”, complementou ao sinalizar que o processo emancipatório de Vila de Abrantes tem que ser discutido futuramente na Casa.
“Abrantes é de fato injustiçada nesse processo político de Camaçari, nós precisamos reconhecer”, sinalizou o vereador Tagner Cerqueira (PT). “Essa Casa acertou no início do debate, errou na comunicação e nós precisamos reconhecer que nós erramos na comunicação, a gente precisa corrigir isso, mas a gente não pode morrer nesse debate. Esse debate tem que iniciar hoje, ouvindo Abrantes, ouvindo toda a cidade, mas não podemos enquanto poder legislativo dessa cidade estimular essa briga de Camaçari contra Abrantes, de Abrantes contra Camaçari. A gente quer uma cidade unificada”.
Conforme Jamessom, esse é apenas o primeiro debate de um assunto que deverá ser retomado pela Casa em breve. “A ideia da Comissão de Educação desta Casa, a qual eu sou presidente, o vereador Herbinho é o relator e a vereadora Angélica como membro, é iniciar a discussão, é fazer correções históricas desta cidade que por muito tempo não foram discutidas nessa Casa”, pontuou. “Aqui é o passo inicial para que estejamos unidos”, concluiu.
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