Opinião
Atual política destrói vidas e rouba sonhos da juventude brasileira, por Edson Miranda
Os baixos índices de adesão da juventude nos oferecem uma pista importante da aguda rejeição ao atual sistema político.
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Edson MirandaNos últimos meses, a juventude brasileira vem sendo alvo de uma grande lavagem cerebral que visa capturar seu voto nas próximas eleições.
Capitaneada principalmente pela grande mídia, a intensa campanha voltada para os jovens de 16 e 17 anos moveu mundos e fundos para que esses potenciais eleitores, uma turma para lá de importante, estivessem com seus títulos em mãos.
As variadas mensagens, muitas das quais reproduzidas por personagens criadas pelo jornalismo disfarçado de noticioso, buscavam um só objetivo: mobilizar os jovens para votar nas eleições deste ano.
“A juventude precisa se envolver na política”; “a democracia precisa urgentemente desse engajamento”; “seu voto vai fazer de você uma pessoa mais politizada”; “o voto vai fazer com que você mude sua realidade, a realidade da sua escola e também a do seu país”; “você precisa votar com consciência em um representante, só assim as mudanças podem ocorrer”. Essas eram, mais ou menos, as mensagens, emitidas de maneira direta ou subliminar, visando um resultado satisfatório da lavagem cerebral. E por aí vai!
Perceba, caro leitor, que em nenhuma “reportagem” veiculada — coloco em aspas porque, mais uma vez, se trata de propaganda travestida de linguagem jornalística — apareceu um entrevistado que questionasse ou até negasse o atual sistema político. Todas as entrevistas trouxeram apenas personagens, previamente escolhidas pela reportagem, que confirmassem o discurso da campanha de propaganda.
Para começo de conversa, nada contra o jovem de 16 ou 17 anos retirar seu título de eleitor, e, principalmente, buscar se envolver desde cedo no mundo da política. Muito pelo contrário: percebo que só assim nosso país alcançará mudanças, de fato verdadeiras e significativas, em algum dia da nossa sofrida história política. Torço para que esse dia não esteja tão distante.
Apenas compreendo que a forma como toda essa campanha foi formulada e minuciosamente dirigida ajuda apenas a empurrar tais mudanças para as calendas gregas. Vejo que seu principal objetivo foi exatamente trazer nossa juventude, tão ávida por mudanças urgentes, que impactem positivamente suas existências, para uma posição conservadora, uma posição que visa chancelar, dar seu valioso aval, a tudo de imperfeito, negativo e podre que o atual sistema político eleitoral carrega.
E isso não deve nos surpreender, visto que esse sistema corrompido até a medula só poder alongar sua sobrevivência se, ardilosamente, conduzir o segmento mais impetuoso e mais potencialmente mudancista para uma perspectiva resignatória e acomodada, em síntese, alienada dos nossos verdadeiros problemas e das formas criativas e emancipatórias que devemos buscar para, enfim, resolvê-los.
Tentar fazer com que nossa juventude acredite que vai alterar a cruel realidade ainda atravessada pelo Brasil e por amplas parcelas da sua população simplesmente antecipando a retirada do título eleitoral e votando “conscientemente” em um representante da sua confiança é um verdadeiro crime de lesa consciência, perpetrado pelas elites, partidos políticos, pela mídia tradicional e instituições estatais e da sociedade civil de diversas matizes políticas e ideológicas.
Os baixos índices de adesão da juventude, cujo voto ainda é facultativo, nos oferece uma pista importante da aguda rejeição ao atual sistema político brasileiro e também do profundo desastre que se anunciaria para os políticos tradicionais, evidentemente, caso o voto fosse facultativo para todos os eleitores brasileiros de todas as idades. O sistema ainda se mantém de pé, não pelo efeito da intensa propaganda pavloviana e subliminar que chega aos lares todos os dias, e sim graças à imposição do voto obrigatório e pela inércia adesista de muitos eleitores e militantes fanáticos, que perderam qualquer viés de crítica. Muitos desses, sim, irremediavelmente alienados. Anestesiados por ideologias que impermeabilizaram corações e enrijeceram nervos, por onde já não passam emoções, sentimentos ou quaisquer sensibilidades. Apenas o ódio consegue ainda transitar por esse estado de fechamento.
Essa grande rejeição não é à democracia, muito pelo contrário, é ao atual sistema político e de repartição do poder no Brasil: este um verdadeiro atentado à Ordem Democrática e aos básicos direitos da população, instituídos pelo sistema republicano. Nesse sentido, ainda vivemos uma realidade de colônia!
É louvável esse comportamento da nossa atual juventude brasileira: ao rejeitar o sistema como um todo, evitando fazer coro e servir de massa de manobra das torcidas e facções organizadas para capturar o Orçamento Público, ela demonstra grande capacidade de análise, uma visão crítica da deformada realidade política brasileira, além da aguda percepção de que qualquer solução eficaz e eficiente às nossas múltiplas crises não virá pelas mãos nem pelo beneplácito dos políticos que hoje, de alguma maneira, tanto na situação quanto na oposição, rezam pela atual cartilha do nocivo e lucrativo sistema político e eleitoral do país. Verdadeiras empresas familiares, sustentadas pelo sangue e suor dos pobres e remediados desse imenso Brasil.
Essa atual campanha, visando alienar essa juventude e atraí-la para uma postura de sujeição ao atual modelo, que concentra o poder nas mãos de poucos, dificilmente terá êxito, tende a dar com os burros n’água ao bater de frente com o forte caráter insubmisso desse segmento da humanidade, com o seu ideário por mudanças mais rápidas e pela permanente reflexividade de suas cabeças, promovida pelos atuais meios técnicos de comunicação e circulação de informações e conhecimentos. Isso tudo contribui para que haja apenas um êxito provisório, efêmero, para aqueles que lucram, tiram algum proveito individual, do ato de “fazer a cabeça” dessa juventude atual, podendo, inclusive, resultar no seu contrário: “o tiro sair pela culatra”, como nos diz o dito popular.
“Mais cedo ou mais tarde o novo sempre vem”. O atual sistema político, partidário e eleitoral que ainda vigora, apesar da sua condição de um cadáver que se arrasta às custas da opressão e miséria da amplas parcelas da população brasileira, não perde por esperar: essa mesma juventude que eles tentam agora manietar, visando dar legitimidade aos seus viciados e asquerosos esquemas de controle e mando, já constrói as bases para um novo país, erguido pacificamente no eco silencioso do seu virtuoso exemplo, ao rejeitar, ao dizer um potente NÃO a tudo e a todos que não lhes ofereçam garantias de um novo e sustentável futuro.
Por isso e apesar dos caretas, brindemos ao espírito transformador que permanece em toda a Juventude e a essa nova Natureza Humana que nela emerge, já se anuncia para quem tem olhos para ver e nervos para sentir, forjada por sua atual abertura para enlaçar uma cultura de paz, solidariedade, liberdade responsável e sustentabilidade planetária.
Na atual quadra histórica da política brasileira, só o NÃO, capitaneado principalmente pela juventude, possui potência suficiente para nos livrar do abismo. Torço e trabalho para que ela, a atual juventude, saiba fazer e marcar sua passagem e nossa história.
Sigamos em frente, com pensamento altivo e emoção sutil. Abraços.
Edson Miranda Borges é jornalista e mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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