Cultura e Entretenimento
Aniversário de Camaçari: artistas exaltam identidade cultural urbana da cidade
Ao longo de anos, as nuances da arte moldaram vidas, passando por manifestações culturais de vários âmbitos.
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Patrick AbreuA cultura é um dos principais traços que definem um cidadão, o que é possível ver em exercício em Camaçari. Ao longo de anos, as nuances da arte moldaram vidas, passando por manifestações culturais de vários âmbitos, o que vem pondo à prova todas as expressões artísticas que sempre deram identidade aos baianos que vivem na cidade da árvore que chora.
Caminhar pelas ruas é presenciar a história, contada através do cotidiano urbano da cidade que completa 262 anos nesta segunda-feira (28). Manifestações culturais artísticas sempre estiveram presentes no cerne do município: a Cidade do Saber, as praças, o Boi Janeiro, as Cheganças, o samba e as fanfarras são exemplos de projetos e lugares que canonicamente construíram identidades.
Os artistas que atuam na cidade e bebem dessas fontes são, em sua maioria, independentes, e usam a arte para viver. Além dos artistas em nome, munícipes carregam a arte ainda que não saibam ou a expressem, como é dito na mensagem do músico Faustino Menezes “Careta, quem é você?”, que nos leva a pensar como a arte é simples e corrente.
As gerações de artistas da cidade contracenam em uma mistura de ensino, agregação e inovação. Sobre isso, o estudante de história Luís Henrique, atualmente conhecido por produzir crônicas e contos sobre o cotidiano camaçariense, afirma que há disparidades entre os grupos. “Sem dúvida alguma, há uma grande diferença nos artistas de uma década atrás para os atuais, embora não o veja com maus olhos. É natural esse processo de mudança. A sociedade industrial segue em ritmo frenético e, claro, as pessoas, e consequentemente a arte, não estariam imunes a tais transformações”, explica.
Henrique começou a ingressar ativamente na arte a partir do ensino médio, quando teve a oportunidade de conhecer pessoas de vários bairros da cidade, com diferentes formações culturais e políticas. Nesse ambiente mais diversificado, conseguiu se conectar com os grupos culturais. Logo em seguida, foi convidado por Renan Meirelles (Kbça Beat Box) a compor o grupo de rap Expresso Rima, no qual conseguiu canalizar vozes da juventude periférica da cidade com eventos, rodas de debates e oficinas de hip-hop nas escolas e comunidades.
Para Luís Henrique, na atual geração de artistas de Camaçari há uma busca para o mantimento das referências identitárias da cidade. “Há um fator interessante nessa nova geração de artistas locais. Percebo uma forte reivindicação em relação à identidade histórica e cultural da cidade. Sinto que há uma conexão maior, uma autoafirmação enquanto povo camaçariense. Observo esse sintoma a partir do uso de elementos simbólicos para a cidade, como as imagens do Prédio Redondo, da Estação Ferroviária e da vida popular da cidade, que vêm sendo utilizadas por bandas e artistas de Camaçari,” relata.
Usando como referência as suas vivências no coletivo Representa Clan, fusão dos grupos Expresso Rima e Double Deck, Henrique frisa que a relação identitária supramencionada foi firmada bem antes, e conta como o diálogo construído se concretiza atualmente com grupos da cidade.
“Vale frisar que tais reivindicações não são mérito apenas dos artistas mais novos. Na verdade, as gerações anteriores pavimentaram o caminho, e a eles sou grato, principalmente pela garra em fazer arte em meio a inúmeras dificuldades”, destaca.
“Mas como a arte é incrivelmente mutável, me sinto feliz em saber que há um diálogo entre as diferentes gerações, e observo a materialização desse processo com a banda Afrocidade, na qual a maturidade artística e de vivência contida em Erick Mazzone se mistura com o vigor jovial e energizante de José Macedo e dos demais músicos”, completa.
Passando para um parâmetro mais geral da cultura no município, é intrigante ver como a proliferação das artes, mesmo viva, caminha a poucos passos do desinteresse de um público alheio a essa forma de história e expressão. Em 262 anos é perceptível a dificuldade em manter um relacionamento duradouro com as tradições ao longo do tempo. Além disso, pode acontecer que novas formas de expressão sejam vistas com maus olhos.
Estudante de licenciatura em Artes pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Danilo Santiago já atuou no município como ator, comediante, colagista e educador de arte. Analisando os cenários que passaram aos seus olhos nos últimos 30 anos, entre experiências vividas enquanto sujeito e professor, Danilo comenta como isso vai ser passado para os outros. “Camaçari teve um desenvolvimento cultural. Hoje eu tenho uma preocupação muito grande sobre como vai ficar a cultura no futuro da cidade e como vão ser os pensamentos, porque a gente sabe que a cultura forma os futuros cidadãos”.
Atualmente, Santiago atua como podcaster (Várias Queixas) visando levar a identidade baiana nos trabalhos. O artista sente que falta uma maior ligação da cidade com os artistas e analisa como a cultura da cidade vai ser ramificada para as gerações futuras.
“Eu acho que a comunicação com as próximas gerações vai ser um pouco diferenciada. Não sei muito o que esperar, mas cabe a nós, os fazedores de cultura, alimentar esses novos artistas, esses novos produtores culturais, para que alimentem suas gerações também, apesar de toda dificuldade”, conta.
Sobre o viés apresentado pelos dois artistas, é visto que Camaçari foi pautada pela cultura e seus fazedores e, apesar do caminho feito pelas tradições e mentes já construídas, é preciso continuar agregando arte à cidade; não em uma concepção lúdica e superficial, mas garantindo que as pessoas continuem sendo afetadas, a fim de que a identidade de Camaçari não seja perdida tão facilmente.
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