Camaçari
Agosto Dourado: consultora de aleitamento materno tira dúvidas sobre amamentação
O Destaque1 entrevistou a doula e consultora de aleitamento materno Maria Elaine Valadão.
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Daniela OliveiraO Agosto Dourado é conhecido como o mês de proteção e visibilidade ao aleitamento materno. No Brasil e no mundo, o assunto é lembrado na primeira semana do mês, do dia 1º ao 7, também conhecida como a semana mundial de aleitamento materno. Este ano, o tema abordado é Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, é recomendada a amamentação exclusiva por um período de seis meses, visto que as fórmulas não são capazes de imitar fielmente a composição do leite materno.
A falta de orientação adequada na hora de amamentar pode causar, para algumas mães, alguns transtornos, como dor e dificuldade na pega pelo bebê. É muito importante, no entanto, não desistir da amamentação, pois o leite materno tem tudo que o bebê precisa para crescer saudável. Pensando nisso, o Destaque1 entrevistou a doula e consultora de aleitamento materno Maria Elaine Valadão dos Santos*, que elencou as principais dúvidas sobre o aleitamento materno e suas vertentes para ajudar a rotina de mães e gestantes.
Confira:
Destaque1 – O leite materno é o primeiro alimento ofertado pela mãe ao filho. Qual a importância desse alimento e seus benefícios?
Maria Elaine – O colostro é o primeiro alimento do bebê que mama, na verdade. Ele antecede o leite materno e tem como função promover a primeira imunização do bebê. Após ingerir o colostro, o bebê vai ficar mais forte, mais imunizado, e também é nele que é encontrado todos os nutrientes que o bebê precisa para crescer, de maneira balanceada. O leite materno oferece ao bebê o que ele precisa, a mãe oferece ao bebê o que ele precisa, então a importância é essa nutrição completa, que vai desde a hidratação até os principais nutrientes que são necessários para o bebê naquele momento.
D1 – Qual é o momento ideal para a primeira mamada? Logo após o nascimento?
M.E – Sim. O momento ideal para a primeira mamada é logo após o nascimento, se chama hora dourada. Significa que na primeira hora de vida, o bebê, ele tem que ter acesso ao peito. Não significa que ele vai mamar, aquela sucção assim rigorosa, mas ele precisa ter acesso ao peito, por uma série de questões. Uma delas é hormonal, porque o bebê, ele estimula a produção de leite materno à medida que ele vai succionando, vai estimulando a ocitocina, o imprinting, essa conexão que a mãe e o bebê vão estabelecendo logo no início da vida. Além disso, também ajuda o bebê a estimular alguns sistemas, por isso é importante que ele tenha acesso ao peito na primeira hora de vida, isso preconiza o sucesso da amamentação como um todo pro resto da vida como lactante.
D1 – Além de alimentar o bebê com o leite materno, quais os benefícios passados de mãe para filho no processo de amamentação?
M.E – A amamentação é importante porque toda essa musculatura bucomaxilar é trabalhada, e isso desenvolve uma série de sistemas do bebê, como: o sistema motor, neurológico, cognitivo, gástrico… são muitos sistemas que são trabalhados com a amamentação em si, não necessariamente apenas a nutrição, mas esses aí são tão importantes quanto a nutrição.
D1 – Quais os benefícios da amamentação para a mãe?
M.E – Tem uma pesquisa que fala que as mulheres que amamentam têm uma redução de aproximadamente 30% dos casos de incidências ao câncer de mama, então o processo de amamentação ajuda muito. Sem falar no retorno do tamanho original do útero, logo após o parto, ajuda também na redução de peso da mãe, retornando ao peso original do corpo.
D1 – É necessário fazer alguma preparação nos seios durante a gravidez para a amamentação?
M.E – Não. A única preparação que precisa é a informação. Não precisa se fazer qualquer estimulação, qualquer movimento, nada. O que se propaga muito por aí são algumas técnicas, mas essas técnicas, nenhuma delas simula o atrito que a língua do bebê faz com o mamilo, nenhuma dessas “preparações” garantem que a mãe vai ter algum sucesso na amamentação porque foi feita essa técnica, não existe evidência nenhuma disso.
D1 – Toda mulher pode amamentar?
M.E – A princípio, sim. Mas existem algumas mulheres, por exemplo, com Aids ou algumas doenças transmissíveis, que não podem amamentar, porque pode transmitir a doença existente na mãe para o filho. Além das doenças, tem mulheres que têm algumas disfunções da hipófise que também não podem amamentar, então nem todas as mulheres podem amamentar. Salvo essas exceções, todas as mulheres podem amamentar.
D1 – O que é apojadura e os principais erros cometidos que podem contribuir com seu surgimento?
M.E – Apojadura é um fenômeno fisiológico. Não tem como você não contribuir para o surgimento da apojadura, toda mulher vai ter apojadura, porque é o surgimento do leite que vem com a saída da placenta, que é hormonal e vai acontecer. Não tem um fator que determine o surgimento ou não da apojadura, o que pode fazer é ter o manejo mais positivo da apojadura para que a mulher possa passar por esse processo de forma mais tranquila. Ter o cuidado para que as mamas não empedrem, para que não aconteça a mastite. Então é um fenômeno fisiológico, não tem como contribuir contra. Para evitar que o leite não desça, é necessário verificar se a mulher não está fazendo uso de algum hormônio ou medicamentos que possam interferir no aleitamento materno. Além disso, também fazer a sucção contínua do bebê. Mesmo sem a sucção a apojadura acontece, tanto é que mulheres que sofrem abortamento elas também vivem essa situação.
D1 – Como deve ser a alimentação da mãe durante a amamentação? Quais alimentos auxiliam na produção de leite?
M.E – Normal. São os alimentos que a mãe já consome. O ideal é que ela consuma alimentos saudáveis, focados no bem-estar da mulher do que necessariamente do bebê, porque o leite materno ele vai resgatar todo e qualquer estoque de nutrientes necessários para o bebê. Até mesmo as mães subnutridas, elas oferecem o leite de boa qualidade para o seu filho, porque o leite vai resgatar todas as reservas nutritivas da mãe, o que não é saudável pra mãe, mas para o bebê a qualidade do leite não muda nada. Então é importante a mãe manter uma dieta natural, de qualidade, com nutrientes balanceados, verificar se o bebê tem alguma reação alérgica a determinados tipos de alimentos consumidos pela mãe. Mas, a princípio, a dieta da mulher não deve ser mudada por conta do aleitamento materno.
D1 – Leite materno é o suficiente ou alguns bebês podem precisar de complemento alimentar?
M.E – O leite materno é suficiente, mas alguns bebês podem precisar de um complemento alimentar de fórmula láctea receitada pelo médico. O complemento pode ser sugerido após verificar todas as condições fisiológicas da mãe, do bebê, como: a verificação do ganho de peso do bebê, o baixo ganho de peso do bebê com base no achatamento da curva de crescimento, mães que têm a mama reduzida e que fazem uso de medicamentos que possam reduzir a produção de leite materno.
D1 – Qual a importância de amamentar exclusivamente o bebê com leite materno até o sexto mês?
M.E – A importância de amamentar o bebê até o sexto mês é fisiológico. O corpo do bebê não está pronto para a digestão de alimentos muitos complexos. O leite materno é de fácil digestão, além de trazer todos os nutrientes necessários para que o bebê tenha sucesso com relação à saúde. Com o leite materno pode evitar alergias no bebê, pode evitar a obesidade neonatal, a desnutrição (por conta dos alimentos pobres de nutrientes que são ofertados). Então, o aleitamento materno é importante para o bebê nesse período por conta da imaturidade do corpo do bebê em absorver outros alimentos e ao mesmo tempo a necessidade nutricional que o bebê precisa para se desenvolver de forma saudável e sustentável no primeiro semestre de vida.
D1 – Existe diferença entre a saúde dos bebês que são alimentados exclusivamente com leite materno e os que consomem leites artificiais ou de outros animais?
M.E – Nem sempre. Existe, sim, uma tendência dos bebês que são alimentados com leite de vaca a desenvolver alergias alimentares e outras síndromes alérgicas, e isso acaba sendo uma questão importante de ser avaliada para não prejudicar a saúde do bebê.
D1 – Qual a quantidade de leite adequada que um bebê deve consumir?
M.E – Isso é muito variável, não tem uma regra. Tem dias que os bebês vão mamar menos, tem dias que vão mamar mais, depende da idade do bebê, do porte físico do bebê. Não existe uma regra matemática pra isso, e sim uma quantidade mínima calórica que é definida, mas na prática o que vai desenvolver a quantidade que ele precisa mamar é a própria demanda do bebê.
D1 – É normal sentir dor no bico do seio quando o bebê começa a mamar?
M.E – Não é normal. Existe um processo de adequação em alguns momentos, principalmente as mães que nunca amamentaram. Pode acontecer um processo de adaptação, mas o que define se é uma dor de adaptação e uma dor de pega incorreta é justamente a continuidade da dor ao longo da mamada. O ideal é que quando a mãe sentir dor ela precisa retirar a mama da boca do neném e fazer a correção da pega. Caso a pega esteja correta e ainda assim exista dor, ela precisa buscar o fonoaudiólogo pra ver como está o frênulo lingual da criança, ou uma costura do aleitamento materno para ver se existe alguma questão a ser avaliada.
D1 – O que é mastite? O que fazer para evitar? Prejudica a amamentação?
M.E – A mastite é uma inflamação das glândulas mamarias. Isso acontece, geralmente, quando tem um agente infeccioso que inflama as glândulas e provoca muita dor. E nesse caso, precisa ser evitada primeiro verificando o leite que a mãe guarda nas mamas. O que tem que ser feito é amamentar, ordenhar quando a mama está muito cheia e em alguns momentos também fazer o uso de compressas, tanto quente quanto fria, pra ajudar nessa fluidificação e renovação do leite nas mamas. A mastite prejudica a amamentação justamente porque dói, a mastite provoca incômodo e febre, e a mãe geralmente fica debilitada, com dor e pode prejudicar a amamentação, fora que o leite não fica fluido, muitas vezes ele não consegue nem sair da mama.
D1 – A amamentação é um método anticoncepcional?
M.E – Não é um método anticoncepcional. O que acontece é que muitas mulheres não ovulam durante a amamentação exclusiva, mas não existe uma garantia que isso vai acontecer com a mulher que está amamentando. Ela precisa, realmente, se ela desejar evitar a gestação, fazer o uso de um método contraceptivo.
D1 – Amamentar deitada dá infecção de ouvido no bebê?
M.E – Não, isso é um mito. Não existe, porque o bebê fica na horizontal, tanto na amamentação sentada ou deitada, então isso é um mito, não tem nenhuma fonte segura científica que defina que isso realmente acontece. Alimentar deitada é uma ótima alternativa para a mãe que está cansada e precisa descansar à noite. E deitar junto com o bebê pra amamentar é uma forma que eu aconselho e não tem nenhuma contraindicação.
* Maria Elaine Valadão dos Santos tem 37 anos, é engenheira química, doula gestação, parto e puerpério há sete anos, consultora de aleitamento materno pelo GAMA desde 2016, fundadora do Grupo de Apoio à Maternidade Prosa Gestante. É proprietária da empresa de produtos naturais Mamãe – Bebê Mãe Árvore, mãe de Bernardo, de nove anos, e Igor, de três. Os dois foram amamentados por dois anos e seis meses.
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