Ancestralidade e quebradeira: a junção dos dois elementos deu o tom do show da banda Afrocidade na primeira noite do Festival de Arembepe, neste sábado (29). A apresentação, que levou Dona Bete, Pivetalvez e Makonnen Tafari ao palco, saudou a resistência da cultura popular e local.

A grande homenageada da noite, Dona Bete, natural de Arembepe, é mestra da cultura popular e fundadora da Chegança Feminina de Arembepe. Ela subiu ao palco cantando o clássico “Alguém me avisou”, encantando os amantes do samba e da cultura tradicional.

“Foi através dessas pessoas que a gente começou a sonhar, então nada melhor do que passar por aqui e encontrar Dona Bete e trazê-la para o palco”, destacou o vocalista da banda, Eric Mazzone.
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“Afrocidade é a única banda que trouxe a cultura de Arembepe, com pessoas que são mais velhas, eu gostei muito disso”, expressou a vigilante Juliete da Silva, 33 anos, nascida e criada na localidade.

O show contou com grandes sucessos do repertório do Afrocidade para o festejo. “Tá mó barril”, “Direto de Camaçacity” e “Eu vou no gueto” colocaram o público para gingar, ritmados com a percussão da banda. “As mina pra o baile” levou representatividade e empoderamento para as foliãs presentes na noite de festa.

Sob o calor de 28ºC, a banda colocou a pista para pegar fogo e os corpos para suar com o som do tambor. O grupo mistura ritmos como arrocha, reggae, rap e pagode baiano, velhos conhecidos das periferias de Camaçari. “Eles não seguem o padrão, têm autenticidade, algo diferente: um swing e ritmo que é o diferencial deles, o que chama a atenção onde eles chegam”, opinou a assistente de planejamento Ariele Santos, 29 anos. Ao lado das amigas, ela dançou sem parar ao som do grupo, que já acompanha há pelo menos seis anos.

Há pouco menos tempo do que Ariele, a soteropolitana Luzi Anjos, 47, assiste aos shows e prestigia o trabalho do Afrocidade. A ideia inicial era acompanhar a filha, de 19 anos, mas, de dois anos para cá, o coração falou mais alto e a representatividade cativou a servidora pública da área de segurança. “É um dos grupos que trazem a questão cultural e da nossa ancestralidade. É importante quando eles trazem essa mensagem, que consegue ser ouvida por outros povos, inclusive, ultrapassa barreiras”, refletiu.
“É importante levar a cultura da sua cidade, porque você mostra o seu pertencimento, para que a gente tenha força na nossa voz e naturalize falar sobre axé, candomblé, ancestralidade e nossa cultura afrodescendente e indígena também”, acrescentou Luzi.
Para completar o show, a banda trouxe canções consagradas do cantor de reggae Edson Gomes, como “Árvore” e “Camelô”, além do sucesso “Selva Branca”, do Chiclete com Banana, que deixou o gostinho de carnaval no público.
Ao Destaque1, a banda contou sobre as expectativas de iniciar a primeira turnê internacional ao lado do Timbalada, com o cantor Deny Dennan, que também é cria de “Camaçacity”. Os shows já estão confirmados em Portugal e na Espanha.
“A gente acreditou que era possível. O Afrocidade vem conquistando espaços como esse, internacional, porque o nosso trabalho é nascido e construído visando expandir e ir para lugares que talvez as pessoas acreditassem que não poderíamos chegar”, enfatizou a vocalista da banda, Fernanda Maia.