Opinião
A ausência de políticas para os animais e o trabalho sem reconhecimento dos protetores em Camaçari, por Kaique Ara
Para além do fundamental, a pauta dos indefesos é pouco extensa.
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Kaique AraQuantas vezes nos deparamos diariamente com animais soltos e abandonados pelas ruas das cidades? Quantas vezes ligamos a TV ou visualizamos nas nossas redes sociais notícias de animais que sofreram maus-tratos? Ou até mesmo animais acometidos por doenças parasitárias ou infecciosas que por ventura contaminaram humanos? Pois é, essa realidade atinge todas as cidades, e em Camaçari não poderia ser diferente.
Há pouco tempo, mais precisamente em 2018, circulou nas redes sociais, vindo a se tornar matéria de um jornal de TV de grande audiência no estado, o caso da família camaçariense que sofreu com a esporotricose, endemia de fungo que atinge especialmente gatos e que são transmitidos para humanos. Naquele momento ficou latente a ausência de políticas de proteção para os animais em Camaçari. Se de um lado o município não apresenta respostas eficazes, de outro novos atores ganham protagonismo na defesa desses animais tão indefesos: os protetores.
Protetores como Girlane Azevedo têm feito um trabalho excepcional, com recursos próprios e ajuda de amigos. A moradora do Bairro Novo tem feito o que pode para resgatar cães e gatos e ajudar a recuperar felinos com esporotricose. “Muitas vezes os donos querem abandonar os gatinhos por temerem a doença, e até mesmo por não ter recursos para o tratamento. Enquanto protetora, eu auxilio como posso na recuperação desse animal, tratando-o inclusive na minha própria casa e conseguindo um novo lar para esse animal quando recuperado”, afirma Girlane.
Ações como castração, consulta com veterinário, vermifugação, acolhimento e lar temporário para animais abandonados também têm sido um trabalho do grupo Arca-Resgate, liderado pela protetora Luciene Reis. Segundo Luciene, antes da pandemia já tínhamos uma situação crítica referente à política de proteção dos animais em Camaçari. Com a pandemia, a atenção por parte da gestão pública a essa causa ficou ainda pior.
O lar temporário do grupo Arca tem recebido cotidianamente animais abandonados para serem tratados e adotados, usando de recursos próprios, sustentando todos os custos com vendas de rifas, quentinhas e doações, além do trabalho incansável de diversos voluntários e parceiros. O lar, que nunca recebeu auxílio do governo, agora se depara com ordem de despejo por parte da prefeitura. “Compreendemos que o nosso lar, que está na área de revitalização do Rio Camaçari, precisa sair daqui. Contudo, temos animais recebendo nossos cuidados, e fazemos um trabalho que deveria ser feito pelo poder público. É mais do que justo que recebamos um novo espaço para continuar cuidando dos nossos animais”, afirma Luciene.
Além da questão referente à ordem de despejo recebida pelo grupo Arca, protetores, voluntários e simpatizantes têm se mobilizado para que o básico seja feito pelo poder público. “É triste viver numa cidade rica onde os animais são tratados como meros seres sem importância. As castrações, que já são insuficientes, e os testes de leishmaniose (calazar), que acometem animais e humanos, estão suspensos; o tratamento de esperotricose não existe na rede pública; enfim, o básico não funciona”, esbravejou outra protetora que preferiu se manter no anonimato.
A pauta dos indefesos é pouco extensa, além do básico: o sonho de um Centro de Controle de Zoonoses que funcione efetivamente e de um hospital veterinário. É essencial que Camaçari observe bons exemplos, como Salvador e Serrinha, para que o pontapé de políticas de proteção dos animais seja dado com êxito e sem dúvidas. Os protetores precisam ser ouvidos e envolvidos nesse processo.
Kaique Ara é professor de História e mestrando em Estado, Governo e Políticas Públicas.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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