Cultura e Entretenimento
A arte e a ameaça produtiva em meio à crise, por Patrick Abreu
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Patrick AbreuMuito tem se falado sobre o mercado cultural e a situação daqueles que vivem de shows e apresentações, em meio a um cenário alarmante que é a atual pandemia do coronavírus. Apesar das circunstâncias atingirem todos os meios, a fragilidade do setor cultural faz com que a crise atinja com mais vigor a categoria. Não sendo o bastante, problemas além da sobrevivência financeira cercam os artistas, complicando vidas além do mercado.
A arte vai além da concepção dos palcos e eventos, ela é o constante uso da criatividade que mantém a manivela da cultura em movimento. A partir do momento que a crise forçou todos a ficarem em casa, a ideia de não fazer nada é vista como uma afronta para aqueles que produzem materiais de expressão artística. Foi imposta uma pressão onde acaba se tornando regra que as pessoas devem aproveitar o isolamento para produzir mais e mais a todo custo.
Nessa situação, há dois lados da moeda que devem ser vistos. É verdade que muitos artistas têm aproveitado o tempo para aflorar ideias durante a pandemia, estes que antes não tinham tempo para produções, agora se encontram em uma miscelânea de ideias e crescimentos pessoais. No entanto, uma parcela de artistas sofre com bloqueios criativos, pois além de precisarem de convenções sociais para elaborar projetos, a visão de inferioridade quando postos ao outro lado da moeda que está lidando de forma produtiva com o isolamento, acaba formando uma pressão degradante.
Para a psicóloga clínica Márcia Vital na análise ‘perigos da produtividade’, a autocobrança e a corrida do artista para se manter aparente na cena pode impulsionar impactos negativos à saúde mental. “Essa cobrança excessiva e essa necessidade de se manter visível está sendo precursor de crises de ansiedade, pânico e depressão entre muitas classes profissionais. E essa realidade atinge sobretudo a classe artística, que precisa aguçar ainda mais a criatividade para se manter presente na vida dos seus seguidores”, afirmou.
Essa situação da produção versus a infertilidade de ideias pode levar a um enfraquecimento mais grave da cultura, tanto no mercado de exposição quanto na ideia de cultura cotidiana, que é berço da criatividade. O sentimento de incapacidade é algo humano que antes do isolamento já permeava uma geração. Resta à categoria artística se dar o devido tempo e espaço para descarregar pressões e buscar incentivos próprios.
É importante lembrar que estamos em distanciamento social e não em uma competição de quem produz mais, quem lê mais livros, quem assiste mais séries ou quem faz mais lives, atenta Márcia Vital.
De forma gradual estamos aderindo caminhos para a cultura segurar o fôlego, mas o afogamento iminente anda lado a lado com a força que as pessoas estão fazendo para a manivela continuar em movimento. Ainda não se sabe quando se dará o retorno de atividades externas no cenário brasileiro, o otimismo leva a compreender que a pandemia está dando novas formas de pensar e interagir com o mundo. É preciso o cuidado com o individual, a descarga da tensão e a aceitação do cenário que 2020 trouxe.
Patrick Abreu, repórter do Destaque1
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