41 anos de PT: o ontem, o hoje e o amanhã, por Kaique Ara

Este que já conquistou o coração de milhões de brasileiros também coleciona contradições e ataques ao seu legado.

Fundado em 10 de fevereiro de 1980 por militantes de oposição à ditadura militar, intelectuais, sindicalistas, artistas e religiosos ligados à teologia da libertação, o Partido dos Trabalhadores (PT) hoje é um dos maiores e mais importantes partidos de esquerda do mundo. Esse que já conquistou o coração de milhões de brasileiros, que possui mais de 1,5 milhão de filiados, quatro governadores e uma das maiores bancadas da Câmara e do Senado Federal, também coleciona contradições e ataques ao seu legado.

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As lutas e os movimentos que organizaram a fundação do PT através de pautas tão heterogêneas foram capazes de levá-lo a disputar todo segundo turno das eleições presidenciais desde 1989, conquistando o comando do Palácio do Planalto em 2003 com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva; em 2010, a primeira mulher a presidir o Brasil, com a vitória de Dilma Rousseff. O legado das gestões petistas apresenta dados virtuosos de desenvolvimento econômico, pleno emprego e redução da desigualdade social no país, segundo dados do IBGE. Programas como o Luz para Todos, Água para Todos, Fome Zero, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, PAC, Reuni, Prouni, FIES, SISU, Ciências sem Fronteiras, reconhecidos mundialmente, fazem parte da cartilha do “modo petista de governar”.

Talvez mais importante que apenas observar o quanto foi e é o PT para o Brasil, na representação do parlamento, nas suas gestões em estados e municípios, é compreender as frustrações que esse partido carrega consigo, principalmente pelo fato de não ter obtido êxito em algumas das reformas estruturantes tão disputadas por sua militância e por parte significativa da sociedade. A reforma da mídia, do judiciário e a taxação das grandes fortunas são algumas das frustrações do PT.

Por falar em mídia e judiciário, esses dois elementos são historicamente antagonistas ao partido da “estrela vermelha”. Em “O Livro do Boni”, de José Bonifácio, ex-diretor da rede Globo, foi capaz de relatar toda a farsa por trás da eleição de Collor contra Lula em 1989, quando haveria sido criada uma estrutura de “blindagem” ao então candidato alagoano no último debate presidencial daquele período. Posteriormente, ataques sistemáticos da mídia nacional contra o PT subsidiaram diversos momentos de instabilidade e golpe, a exemplo do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e da prisão arbitrária do ex-presidente Lula, em 2018.

Assim como o livro do Boni, relatos sobre estratégias de perseguição ao PT têm sido constantemente divulgados. O ex-presidente da Câmara Federal e algoz do impeachment da então presidenta Dilma, Eduardo Cunha, em seu livro que será lançado em breve, traz os bastidores da farsa que culminou na derrocada da chefe da nação, com a narrativa das famosas “pedaladas fiscais”, rechaçadas posteriormente pelo Tribunal de Contas da União. Outro favorecido com o golpe de 2016, Michel Temer, em entrevista recente à revista Veja, foi capaz de admitir que Dilma é um ser de “honestidade ímpar”.

O golpe de 2016 e a prisão política de Lula em 2018 têm uma singularidade única à inviabilização do PT no comando do país. Se de um lado nós tivemos uma presidenta perseguida e retirada do seu cargo sem crime de responsabilidade ou de ferimento à Constituição, por outro tivemos a prisão arbitrária do ex-presidente, que então pontuava predominantemente nas pesquisas de intenção de voto nas eleições de 2018.

As mensagens divulgadas recentemente do então juiz Sergio Moro e do procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, mostram a parcialidade do judiciário e a aliança com a grande mídia na interferência do processo político de 2018; tais mensagens foram criticadas pelo atual ministro do Supremo, Gilmar Mendes, que em recente declaração apontou a parcialidade e a criação do “próprio código do processo penal” por Moro. As mensagens vazadas entre o clã da Lava Jato poderão ser utilizadas pela defesa do ex-presidente Lula na tentativa de anular a decisão do ex-juiz e ex-ministro do governo Bolsonaro.

Com toda a instabilidade na política nacional, o caminho do PT passa por grandes lutas e reflexões. A maturidade dos 41 anos exige uma nova roupagem de ideias. Lançado recentemente pré-candidato à presidência, o ex-ministro Fernando Haddad, que alcançou o segundo turno da última eleição presidencial, tem uma grande tarefa: colocar o bloco na rua. A defesa de Lula, do legado do PT, da democracia, e a construção de um programa político que reconstrua o Brasil social e economicamente são parte de seus desafios.

Na Bahia, o nome lançado pela direção do partido para 2022 é o do senador Jaques Wagner. O nome do ex-governador, ex-ministro e conselheiro político do presidente Lula é aclamado pela militância petista. Wagner, que também foi candidato a prefeito em Camaçari nas eleições de 2000, acumula consigo a experiência em vitórias contra o Carlismo na Bahia.

Em Camaçari, ainda que muito cedo, o desenho político de 2022 já começa a ser rabiscado. O acúmulo dos mais de 53 mil votos na eleição de 2020 para o executivo municipal, aliados à urgente necessidade de uma representação de esquerda no cenário Estadual e Nacional, credencia o PT da cidade a pavimentar sua estrada rumo à Assembleia Legislativa e/ou à Câmara Federal. O cardápio de nomes com força política e inserção social começa a ser posto na mesa, e é obvio que o nome da advogada Ivoneide Caetano, líder da oposição na cidade, tem destaque no quesito voto.

Os desafios do PT de Camaçari estão além de 2022. Os desafios, na verdade, são do agora. Construir uma oposição inteligente, fiscalizar os desmandos da gestão atual, defender os trabalhadores e reforçar seus laços na organização social está na ordem do dia. Segundo o atual presidente municipal, professor Márcio Neves, “o povo nos deu a responsabilidade de ser oposição, então faremos isso com maestria”.

Kaique Ara é professor de História e mestrando em Estado, Governo e Políticas Públicas.

*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.