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Entre a racionalidade e a racionalização: um país em conflito
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Edvaldo Jr.O humano é um ser de um só tempo plenamente biológico e plenamente cultural, que traz em si a uni dualidade original. É super e hipervivente: desenvolveu de modo surpreendente as potencialidades da vida. Exprime de maneira hipertrofiada as qualidades egocêntricas e altruístas do indivíduo, alcança paroxismos de vida em êxtases e na embriaguez, ferve de ardores orgásticos e orgásmicos, e é nesta hipervitalidade que o Homo Sapiens é também o Homo Demens. O homem é, portanto, um ser plenamente biológico, mas, se não dispusesse plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível.
A integração do saber constituído pelas artes, não são apenas meio de expressão estática, mas de conhecimento. É importante que o homem olhe para seu interior a partir de si mesmo, o que faz dessa uma tarefa dificultosa e complexa pelas variáveis que as influem. É na cultura que o homem se entende como tal, fora dela forma um primata de baixo nível, o homem que não possui cultura de nenhuma espécie é por si um bruto e se lhe falta disciplina e educação torna-se então um selvagem.
A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, normas, proibições, estratégias, crenças, ideias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social.
Existe entre o homem um antagonismo que o aproxima e afasta, o completando ou não. O ser humano é dotado de diversos sentimentos e sensações que o envolve e o movimenta a todo momento de um lado para o outro. Podendo ele ser ódio e amor, risos e lágrimas, a ciência ou a mística, o imaginário ou realista, por ser ele preenchido por todos esses comportamentos, sensações e movimentos demostrando uma teia complexa desse homem. Essa complexidade a qual o homem está envolvido não permite que seu entendimento seja feito em condições diversas. Só uma ciência ampla e dialógica tem condições de reproduzir com amis verdade esse mundo introspectivo do homem.
A razão é o caminho possível para o desmonte da barbárie, uma razão aberta que só é realizável na racionalidade, no enfrentamento constante da racionalização, pois essa se sustenta nas ideias simples que não leva ao pensamento crítico. A racionalidade pode ser o resultado da própria racionalização, sua presença não significa o desaparecimento da razão, lembrando que em momentos como esses que surgem e se fortalecem os pensamentos críticos possíveis de desorganizar a prática da barbárie.
A verdadeira racionalidade, aberta por natureza, dialoga com o real que lhe resiste. (…) é o fruto do debate argumentado nas ideias e não a propriedade de um sistema de ideias. (…) A verdadeira racionalidade conhece os limites da lógica, do determinismo e do mecanicismo; sabe que a mente humana não poderia ser onisciente, que a realidade comporta mistério. Negocia com a irracionalidade, o obscuro, o irracionalizável. É não só crítica, mas autocrítica. Reconhece-se a verdadeira racionalidade pela capacidade de identificar as suas insuficiências.
A ideia da razão instrumental que tem como finalidade a manipulação das pessoas, a racionalização está no dia-dia através de discursos prontos e fáceis que se auto justifica, que não se utiliza de aspectos da realidade, e sim de partes, que são utilizadas na defesa de interesses individuais ou para acusar outrem. A racionalização reduz a percepção ao que lhe interessa naquele momento, ela se apresenta em várias esferas da vida social. A consequência a ela é a racionalidade ou a razão crítica. Na razão crítica estão as condições que não permitem que essa se feche em si.
Somente a razão crítica e autocrítica pode ser uma aliada potente a todas essas mazelas da racionalização. Somente a razão aberta pode ser um antídoto forte à barbárie. A todos os tipos de barbárie, fruto da racionalização, deve-se opor a racionalidade. “Trata-se, hoje (…), de salvaguardar a racionalidade como atitude crítica e vontade de controle lógico, mas acrescentando-lhe a autocrítica e o reconhecimento dos limites da lógica.”
Existe, portanto, uma racionalidade crítica que evita as armadilhas da racionalização, uma racionalidade autocrítica que associa razão, conhecimento e autoanálise. As doenças da razão não se explicam pela própria racionalidade, mas pela sua perversão em racionalização e pela sua quase-deificação.
Edvaldo Jr., historiador, pós-graduando em Direito Público Municipal, professor e palestrante. Escreve as terças a cada duas semanas. jornalismo@destaque1.com
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